Blog do Gustavo

Quadrilha do “jeitinho”

gustavotorres

''Cabral amava Isabel que tinha dinheiro

que tinha um caso com ''cafés-com-leite'' que odiavam Getúlio que amava o Brasil

que elegeu Juscelino

Cabral não encontrou as Índias, não se sabe de Isabel,

O dinheiro foi para os bancos, os ''café-com-leite'' brigaram,

Getúlio suicidou-se e o Brasil perdeu de 7 X 1 para Alemanha

que não tinha entrado na história''

Nunca fui bom com poemas, mas achei que os trocadilhos podiam servir como bons símbolos. Cada um dos personagens dessa quadrilha representa um aspecto da nossa nação.

Pedro Álvares Cabral, o espírito aventureiro;

Isabel era de uma família portuguesa rica e influente, responsável por financiar boa parte das campanhas de novas rotas para as Índias; por isso, exigiu que seu marido, Pedro, fosse colocado como comandante da jornada que o consagraria como descobridor do Brasil. Essa relação aponta para os privilégios e favorecimentos que se estendem até hoje.

As oligarquias do café e do leite representam elites que detêm um poder que, de tempos em tempos, passa para mãos de pessoas diferentes.

Getúlio Vargas representa uma paixão tamanha pelo país que pode levar a atos mal pensados às vezes.

E o Juscelino Kubitschek, que ficou sem fim na história? Bem… esse se esqueceu de levar os filhos para a escola e preferiu brincar de carrinho; enfim, se planejou mal. Tipo o Felipão…

Brincadeiras à parte, sabemos que Juscelino tinha belas intenções, assim como Felipão; sabemos que não são os únicos culpados pelos resultados que a atuação de suas equipes tiveram. Mas eles representam um problema crônico do Brasil, que é a falta de planejamento.

Na seleção, a comissão técnica, a formação tática, o trabalho de amadurecimento sobre o time, enfim, aspectos essenciais de planejamento deixaram a desejar. O pensamento de que a sorte, a habilidade e o famoso ''jeitinho'' que já estão no sangue vão trazer a taça para o país se mostrou equivocado. Enfim, não pretendemos cair aqui num discurso que já entra em senso comum. Mas queremos aprender com um acontecimento importante. Precisamos criar uma cultura de análise, de estudo e de pensamento a longo prazo. Caso contrário, as goleadas continuarão nos vários outros setores de nossa sociedade, como na distribuição de renda e na educação.

Vou admitir que estava bem empolgado com a Copa e que por algumas semanas esqueci dos problemas sociais que vejo em meu cotidiano; em pensamento, me mantinha contra a Copa ser no Brasil, mas, já que estava acontecendo, entrei na vibe. No último jogo da seleção, quando o placar marcava 3 a 0, o orgulho de ser ''brasileiro com muito amor'' se apagou melancolicamente; aos 4 a 0, meu amigo me ligou rindo, comecei a rir também. Lembrei que, apesar de tudo, trata-se apenas de um jogo. Mas esse jogo me despertou para a realidade e espero que tenha despertado muitos outros também. O Brasil perdeu, os problemas são escancarados… Abre-se a oportunidade para resolvê-los.

Eu estou aqui, me matando para planejar minhas férias e descobrir o que quero da vida. É difícil… será que essa dificuldade de planejamento é hereditária? Espero que não. Agora é a hora de planejar, Brasil!