Espaço e ação
gustavotorres
Starbucks, Google e o escritório do seu dentista são lugares muito diferentes, mas todos tem algo em comum: a partir do momento em que você entra, eles viram cenários de narrativas. Dentro deles, você se sente personagem, e pensa e atua de acordo com o papel dessa personagem. Em cafés como o Starbucks, é normal ver universitários nos seus Macs trabalhando em projetos; parece ser um lugar que inspira foco e criatividade. Todos imaginam que empresas como a Google tenham ambientes onde as pessoas trabalham, se divertem e criam coisas legais. Finalmente, em escritórios de dentistas, geralmente ficamos meio entediados, somos atendidos e acreditamos no que nos dizem, sem questionar muito. Quando entramos em cada um desses lugares e vemos o ambiente deles, nos predispomos a nos comportar de um jeito ou de outro.
Saber que o espaço onde estamos influencia nosso comportamento pode ser meio assustador, porque passa a impressão de que perdemos o controle sobre como agimos. Não é bem assim. Ainda temos controles sobre nossas ações e podemos mudar o espaço de acordo com nossas intenções. Exemplo?
Muita gente costuma estudar no quarto. Estudar pressupõe foco. Entretanto, quartos costumam ter muitas distrações e, por isso, perde-se o foco. A opção mais comum para resolver esse problema é ir estudar na cozinha. Para otimizar, pode-se colar um calendário com as datas de provas e trabalhos na parede e checklists com as atividades da semana. Também é legal colar post-its com mensagens como “O ministério de saúde adverte: se estudar, não entre no WhatsApp”. Deixar o livro daquela matéria que você tem mais dificuldade o tempo todo num canto da mesa é mais uma estratégia pra associar aquele espaço ao seu momento de foco e estudo.
No emprego e na escola, cada vez mais se pede trabalho em grupo e criatividade. Um ambiente adequado pode contribuir muito para alcançar essa combinação. Para gerar o espírito de que todos colaboram para a construção do trabalho, mesas devem ser colocadas juntas, todos devem ter papel e lápis para registrar suas ideias e o grupo deve estar sempre sintonizado sobre a mesma discussão (leia-se: sem discussões cruzadas em que duas ou mais pessoas falam coisas diferentes ao mesmo tempo). Quanto mais lugares as pessoas tiverem para escrever, melhor; vale desde cartolinas a lousas; quanto mais espaço para colocar ideias, maior a disposição para gerá-las. Objetos relacionados à discussão e que inspirem os membros do grupo a imaginar propostas “fora da caixa” também são muito bem-vindos. Com todos esses elementos, constrói-se um cenário em que as pessoas se sentem dispostas a se juntarem para construir coisas novas.
No cotidiano, é extremamente difícil manter o foco em objetivos de longo prazo. São várias as pessoas que tem a “faculdade dos sonhos”, o “emprego dos sonhos” ou querem colocar aquela ideia genial na prática, mas são pouquíssimos os que de fato tomam ações que os guiem para esses grandes objetivos. Os que conseguem chegar lá transformam sonhos que parecem distantes em práticas diárias, que de pouco em pouco os levam até onde querem. Para manter o foco no dia a dia, também existem atitudes simples que podem fazer muita diferença. Uma delas é escrever post-its que te desafiem do lado da sua cama ou na porta da sua casa. Mensagens do tipo “Já estudou para o vestibular hoje?” ou “Já se dedicou 1h ao seu curso online?” vão te manter focados no dia a dia.
Estamos tão acostumados com os espaços que frequentamos que dificilmente paramos para pensar no quanto eles influenciam nossas ações. Quanto tomamos consciência disso, abre-se um mundo de possibilidades para alterar esses espaços e adaptá-los aos nossos objetivos.
E aí, vai deixar tudo igual ou vai mudar?