Capão-way-of-life
gustavotorres
Andei pensando que escrever sobre música seria interessante, mas tive receio. Depois de meu professor de português recomendar que eu fizesse isso, decidi arriscar. De fato, temos muito para falar sobre o assunto! Além de manifestação cultural, música também é manifestação política.
Para começar a discutir o tema, achei que seria interessante abordar o rap. Esse estilo se tornou identidade de muitos dos que vêm de periferia, e também conseguiu adesão daqueles de classes mais altas que procuram por um gênero diferente. Como sou do Capão Redondo e faço fervorosa propaganda do “Capão-way-of-life”, me identifico com vários dos grupos e suas letras.
Algumas semanas atrás, conheci as músicas do PrimeiraMente. Elas retratam a realidade de milhares, de milhões de pessoas que acordam dispostas a superar desafios diários para mudar suas realidades. Um refrão pode envolver a vida de muitas pessoas, como “Desde sempre sonhador, não me canso de sonhar, seja no amor ou na dor pra viver basta acordar, vida bate na porta e eu convido ela pra entrar, firme e com pé no chão, nem furacão vai me levar” . Acordo às 5h da manhã, enfrento trânsito intenso em ônibus lotados onde tento ler, tenho constantes derrotas, passo por lugares perigosos enquanto volto para casa às 21h e, quando chego, vou estudar e trabalhar em ideias que julgo serem importantes; no meio disso, também encontro muitas felicidades e gente que me apoia. O tempo todo, sei que não sou o único a viver nessa correria. Há muitas outras pessoas que “convidam a vida pra entrar” e enfrentam os desafios que ela traz com o objetivo de realizar um sonho. O sonho se estende desde garantir a dignidade das suas famílias até ter uma “mansão à beira mar, na praia do Guarujá” (como propõe um funk ostentação).
Mais de uma vez, escutar raps que falam sobre esses desafios diários me motivaram a superar derrotas.
Há uns dois meses, após ir mal numa entrevista para a qual me preparei por mais de um ano, fiquei bem nervoso. A situação era tão tensa que me peguei xingando sozinho na rua. Quando entrei no ônibus (agora xingando mentalmente), comecei a escutar Racionais Mc’s no celular e um simples verso mudou minha disposição e alimentou uma vontade enorme de corrigir os erros para acertar nas próximas oportunidades. O verso? “Tudo, tudo, tudo vai, tudo é fase, irmão”.
O maior objetivo desse post era fazer uma homenagem aos que representam todo um grupo social através da arte, de um processo de criatividade que inspira e cria uma consciência coletiva muito importante para quem não se via representado em música alguma. Além de retratar uma cultura, eles dão voz a opiniões e posicionamentos desse grupo. Isso é manifestação política. Receio que a homenagem aqui feita talvez não tenha a qualidade que merece, mas preferi registrá-la a deixar de fazê-la. Enfim, em breve, escreverei outros textos que apresentarão mais maturidade e farão justiça a arte do rap.
Até o próximo post!