Revolução no Capão
gustavotorres
Nos últimos 15 anos, as coisas melhoraram onde moro. Capão Redondo já teve muito mais assassinatos, roubos e drogas. Lógico que ainda não é um paraíso, mas melhorou. Entretanto, ficou a imagem de que aqui é um lugar sem esperanças e sem boas perspectivas de futuro para seus moradores. Acho isso uma grande besteira e, na verdade, crescer no Capão foi muito positivo para mim; justamente porque não encontrei privilégios, aprendi a ter persistência e aproveitar cada oportunidade que encontro. Nascer em periferia diminui as chances de fazer coisas grandes, mas não as excluem. Vejo que cada vez mais pessoas percebem isso, ficam mais otimistas e passam a eliminar limites para seus sonhos.
No Capão
Vi muita coisa acontecer na Fábrica de Criatividade, lugar incrível localizado no meio do bairro; é onde desenvolvemos nosso projeto social, o DSJ (Descobrindo o Sonho Jovem). Ali, vi moleque que ia mal em matemática começar a usar o Khan Academy até altas horas da madrugada e tirar 10 nas provas da escola. Vi também uma garota que tem o sonho de estudar fora caminhar cada vez mais em direção a ele. E também estive com um cara que descobriu a importância para ele de fazer a diferença na vida dos outros, valor que antes desconsiderava. Além disso, na Fábrica, conheci outros projetos, como a TV DOC CAPÃO, criada em 2012 por uma galera com média de 15 anos que, desde lá, tem conseguido entrar em contato com muitos políticos e cobrar melhorias para as quebradas; com o tempo, a TV DOC passou também a oferecer cursos de mídia para os jovens. Essas histórias de quem está mudando suas vidas e tudo o que está ao redor são prova de uma transformação no Capão.
Para além
Esse movimento de melhoria tem se espalhado. O livro Jovens Falcões do Eduardo Lyra, por exemplo, conta 14 histórias de jovens comuns que alcançaram o inimaginável por meio do esforço. Esse livro tem inspirado pessoas de todo o Brasil a perceber que nada as impede de fazer o mesmo. Recentemente, também contribuí para esse processo se espalhar. Depois que passei em Stanford, recebi muitas mensagens de jovens falando de sonhos que renasceram ao conhecerem minha história. Gente que cresceu em contextos cheio de adversidades começou a se preparar intensamente para vestibular, traçar estratégias de estudo e fazer muito mais que o caminho comum de comida-escola-cama. Essa galera toda começou a querer ser a diferença.
Quem imaginaria que pessoas que sempre ouviram ''você não pode'' começariam a se questionar sobre isso? Que começariam a acreditar e fazer? Isso tem um impacto profundo sobre mim e me lembra de que não posso parar, que estou no começo da minha história e que não posso esquecer dos meus sonhos em momento algum. Se todos continuarem com essa energia que estou vendo, mudanças muito positivas virão por aí, quase como uma revolução.
Vai fazer parte? #Bora!